04 de outubro - Dia de celebrar a Medicina do Trabalho


E que arte exerce?

O 4 de outubro é dia de celebrar a Medicina do Trabalho. E não há celebração maior do que honrar o legado de Bernardino Ramazzini que, em 1700, introduziu uma pergunta simples ao roteiro de anamnese médica e mudou para sempre nossa maneira de olhar os pacientes, enxergando-os como trabalhadores: que arte exerce?

Mais de 300 anos depois de Ramazzini, parece tão óbvio que o trabalho ocupe um importante papel no processo saúde-doença, mas vale lembrar que nem sempre foi assim. Apesar de o primeiro relato de uma doença relacionada ao trabalho ter sido feito muito antes da Era Cristã, por Hipócrates, há muito que o mundo aceita como “natural” o adoecimento relacionado ao trabalho. Até hoje, termos como “riscos inerentes ao trabalho” permeiam nossas leis e nosso vocabulário, como se não fossem passíveis de modificação. São sim! Então, neste 4 de outubro precisamos lembrar que o trabalho pode ser modificado e que adoecer não é um destino natural para muitos trabalhadores.

Em meus devaneios, gosto de imaginar o pai da Medicina do Trabalho imerso em seus escritos, olhando para o horizonte e enxergando pela primeira vez um trabalhador em seu ofício. Fecho meus olhos e sou capaz de ver Ramazzini descobrindo este novo cenário, o que o levou a uma observação sistemática dos trabalhadores, nunca antes vista. Eis, então, sua imensa contribuição à medicina – algo que nos faz eternamente gratos.

Ramazzini jogou a luz de seu olhar sobre uma classe habitualmente esquecida e menosprezada. Um dos trechos mais lindos de “Morbis Artificum Diatriba”, traduzido para o português como “As Doenças dos Trabalhadores”, descreve como deve ser a postura do médico que atende um trabalhador. Diz Ramazzini, “o médico que vai atender um operário não deve se limitar a por a mão no pulso, com pressa, sem informar-se de suas condições; não delibere de pé sobre o que convém ou não fazer,…; deve sentar-se com a dignidade de um juiz, ainda que não seja em cadeira dourada… sente-se mesmo num banco, examine o paciente com fisionomia alegre e observe detidamente o que ele necessita dos seus conselhos médicos e dos seus cuidados preciosos”.

De um jeito muito próprio, Ramazzini delineou os elementos básicos da medicina social ou, como tratamos atualmente, da saúde coletiva. Ele nos ensinou como observar o trabalho, tirando o médico de seu consultório e levando-o ao campo para conversar com os trabalhadores e aprender com eles. Trouxe uma visão coletiva que muito contribuiu para o que hoje chamamos de instrumental clínico-epidemiológico. Organizou pela primeira vez as relações de causa e efeito das doenças profissionais ou adquiridas por condições específicas de trabalho. E sugeriu cuidados para prevenir as doenças dos trabalhadores.

Mais do que celebrar a Medicina do Trabalho, o 4 de outubro é dia de honrar o legado de Ramazzini, reafirmando nosso compromisso com esta especialidade médica que lida com as relações entre homens e mulheres trabalhadores e seus respectivos ofícios, visando não somente a prevenção dos acidentes e das doenças do trabalho, mas a promoção da saúde e da qualidade de vida. Nosso trabalho é assegurar a melhoria contínua das condições de saúde, nas dimensões física e mental, e a interação saudável entre as pessoas e, estas, com seu ambiente social e o trabalho.

Nada pode nos orgulhar mais do que esta desafiadora missão. Por isso, hoje é dia de celebrar o que fazemos. E quando alguém desavisado, perguntar a você o que, afinal, faz um médico do trabalho, você pode encher o peito e dizer com orgulho – “eu promovo a saúde dos trabalhadores brasileiros”. E quiçá, de todos os trabalhadores.

Abraços afetuosos a todos os médicos e médicas do trabalho,

Dra. Marcia Bandini

Presidente da ANAMT (2016-2019)

Fonte: ANAMT


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